Sobre cães, vivisecção e darwinismo: uma história da Biologia e de seus dilemas éticos

André Luis de Lima Carvalho, Ricardo Waizbort

Resumo


Conflitos entre ativistas e pesquisadores da comunidade biomédica, como o incidente envolvendo o resgate dos beagles do Instituto Royal, em 2013, envolvem questões éticas significativas, e têm raízes históricas profundas, que remontam à Inglaterra vitoriana, onde surgiram as primeiras organizações antivivisseccionistas. A medicina ocidental, até então considerada a arte da cura, se tornava científica, em um processo de revolução paradigmática, no centro da qual estavam os laboratórios fisiológicos, que empregavam largamente a vivissecção como principal método investigativo. O presente artigo pretende demonstrar que a história dos conflitos acerca da legitimidade da vivissecção é indissociável da história do nascimento da Biologia como ciência autônoma, em um período onde emergiam o Darwinismo e a Fisiologia Experimental. No Reino Unido, Charles Darwin e seus aliados participaram diretamente desse debate e desses embates, tendo influência direta no êxito da legitimação dosexperimentos com animais em seu país, e o principal porta-voz dos interesses comuns a darwinistas e fisiologistas, incluindo a defesa da experimentação animal, foi Thomas Huxley, um grande promotor e divulgador do Darwinismo e da Biologia. Analisando os discursos de alguns porta-vozes desses interesses, como Huxley e Claude Bernard, sobre a vivissecção e as ciências biológicas, e também de dois de seus opositores – Frances Power Cobbe e Richard Hutton, pretende-se contribuir para a compreensão da história desse debate e de como ele esteve ligado à História da Biologia.

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